Adoro essa parte de "Vai valer", dos Paralamas:
Se eu saísse correndo, gritando, cantando/Num pulo a colméia inteira vinha/Se eu tocasse a moda dos sete, a pedra das nove/Às cinco eu vejo aquela estrelinha
E antes das seis da manhã levantava no céu de Campo Grande o sol de uma segunda-feira de agosto. O sol que pouco vimos em um final de semana no Pantanal porque fez frio.
E naquele avião com destino à São Paulo, sentei no corredor e na janela uma moça, que logo pegou o celular para fotografar o nascer do sol [e eu fotografei ela]. E isso me fez pensar:
Me fez pensar que nem sempre a gente precisa de um grande evento para fotografar. Um evento único, importante, uma festa, um casamento, um jantar de pedido de noivado, uma formatura. Não importa.
Porque normalmente a gente só contrata fotógrafo pra esses eventos.
Mas também nos encanta o nascer do sol, que se repete solitário e silente todos os dias da nossa vida enquanto estamos vivos. Todo santo dia. Está lá. Pronto pra surgir antes das seis. E a se pôr ali pelas 18h quando já tá no Japão. Como esse mundo é pequeno, né Emicida?
E como fotógrafo lifestyle e documental, me encanto com o encanto das pessoas pelo simples. Pelo cotidiano. Porque é o que me encanta.
Eu ando pelas ruas vendo cenas. Imaginando fotografias. Sorrindo por dentro. Não num sentido besta de quem anda abobado. Também tenho preocupações e problemas vários. Caminho rápido. Sou impaciente. Mas vejo as cenas. E imagino fotos.
E é tão bom poder parar pra apreciar o nascer do sol.
Me lembro dos primeiros anos de vida do João. Quantos nasceres do sol eu vi por conta desse menino madrugueiro? E o sol só vem depois, né Emicida? Mas agora ele já levanta às 7h e o sol já tá lá.
E quando busco ele na escola às cinco ("às cinco eu vejo aquela estrelinha") e vamos direto para o lazer do prédio, acompanho o céu se transformando e vejo as cores do pôr do sol.
E por vezes fotografo o céu ficando lilás. E guardo pra mim.
Vai valer.
* a foto da capa é da Rebecca Norris Webb @webb_norriswebb